Seringueira: a árvore-da-borracha

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A seringueira, cujo nome científico é Hevea brasiliensis, é uma árvore de porte ereto, podendo atingir 30m de altura total sob condições favoráveis, iniciando aos 4 anos a produção de sementes, e aos 6 -7 anos (quando propagada por enxertia) a produção de látex (borracha) (IAPAR,2004).

Seu tronco varia entre 30-60cm de diâmetro. A casca é o principal componente do tronco, responsável pela produção de látex, transporte e armazenamento de assimilados produzidos na folha. Além dos vasos laticíferos, acham-se na casca, próximo ao câmbio, os tubos crivados, as células parenquimatosas e os raios medulares.

O desenvolvimento das raízes da seringueira está diretamente relacionado às condições físicas ideais do solo, como boa aeração, drenagem e retenção de umidade adequada, permitindo maior exploração do sistema radicular da planta por volume de solo.

Possui folhas compostas trifoliadas, longamente pecioladas, com folíolos membranáceos e glabros.

A espécie pertence ao grupo das Dicotiledôneas, sendo monóica. As flores são unissexuadas, pequenas, amarelas e dispostas em racimo. O fruto é uma cápsula grande, que geralmente apresenta três sementes.

Estas são geralmente grandes e pesam, em média, de 3,5 a 6,0g de forma oval com a superfície neutral ligeiramente achatada. O tegumento é duro e brilhante, de cor marrom, com numerosas matizes sobre a superfície dorsal.

A seringueira (Hevea brasiliensis) é atualmente a principal fonte da borracha natural no mundo. A borracha dessa árvore foi descoberta em meados do século XVIII.

O Brasil tornou-se o maior produtor mundial da borracha natural e passou a abastecer o comércio internacional de 1879 a 1912. Isso trouxe riqueza e desenvolvimento para cidades como Manaus, Belém e Rio Branco, na época e ainda foi responsável pela colonização do Acre, então território da Bolívia, que mais tarde foi anexado ao Brasil (LEÃO, 2000).

Entretanto, a partir de 1912, as exportações brasileiras foram substituídas continuamente, até serem paralisadas no final dos anos 40 (PEREIRA, 2000).

O fim do ciclo da borracha iniciou em 1876 quando Henry Wickham levou para Inglaterra 70 mil mudas de seringueira onde apresentaram notável desenvolvimento. Neste mesmo período, 2.000 mudas foram levadas para Malásia onde também conseguiram se desenvolver. Em 1913, as seringueiras malaias superavam a produção do Brasil: 47.000 toneladas contra 37.000 mil toneladas (LEÃO, 2000).

Os fatores que contribuíram para o sucesso da produção da borracha natural na Ásia foi o fato de a seringueira ser cultivada de forma comercial naqueles países, além da inexistência do fungo causador do mal-das-folhas, doença mais comum dos seringais, principalmente da Amazônia.

No Brasil, isto ocorreu diferentemente, onde o sistema de produção era extrativista e o investimento em pesquisa agrícola não era tão grande quando comparado com o do Ásia. Assim, desde 1912, os países asiáticos passaram a dominar o mercado mundial (BORRACHA NATURAL, 2006).

Mas, foram feitas algumas tentativas no Brasil objetivando aumentar a produção nacional da borracha natural.

A partir da década de 60 foram elaborados no país planos ambiciosos para expandir a produção da borracha natural via cultivo da seringueira. Nos anos 70 e 80, o país investiu mais de US$ 1,0 bilhão para viabilizar a cultura na Amazônia (PEREIRA, 2000).

Todavia, apenas os seringais formados fora da região Amazônica tornaram-se viáveis e fizeram crescer a produção nacional da borracha natural. De 1971 a 2004, a produção nacional de borracha natural aumentou 400% (Figura 1), mas ainda é pequena quando comparada com a dos países asiáticos.

A cultura da seringueira na Amazônia não obteve sucesso devido ao efeito devastador do fungo Microcylus ulei, causador do mal-das-folhas (PEREIRA, 2000).

Pragas e Doenças

Entre as doenças que ocorrem na espécie, o “mal-das-folhas” é uma das mais conhecidas. É causada pelo fungo Microcylus ulei e é o principal fator limitante à expansão da heiveicultura no Brasil, principalmente na região Norte do país.

O dano maior é a queda prematura de folhas, podendo levar as plantas à morte. O controle pode ser realizado utilizando clones resistentes, área de escapes ou  fungicidas.

Podemos destacar também as doenças provocadas pelo fungo Phytophthora spp. Nos últimos anos, este tem causado danos superiores ao mal-das-folhas, atacando folhas, frutos e hastes.

Os sintomas são: requeima, queda anormal das folhas, podridão dos frutos, cancro estriado do painel e cancro do tronco. Ocorre somente no Brasil e tem maior importância no sudeste da Bahia.

O controle pode ser feito utilizando fungicidas, área de escape, limpeza e queima de ramos e galhos infectados da porção mais baixa da copa. Além da requeima e queda anormal das folhas, o fungo é responsável pelo cancro-estriado (cancro-do-painel) e o cancro-do-tronco. O sintoma do cancro-estriado é a interrupção das sangrias durante o período chuvoso, prejudicando a produção.

O cancro-do-tronco pode danificar as plantas com a formação de sintomas de cancro típico ou anelar, levando as árvores à morte.

Ainda há a mancha areolada causada pelo fungo Thanatephorus cucumeris, a antracnose pelo Colltotrichum gloeosporioides, que se manifesta em folhas imaturas, ramos, frutos e no painel, a Podridão Vermelha pelo Ganoderma philipii; a Podridão Parda pelo Rigidoporus lignosus e a Podridão Branca pelo Phellinus noxius.

Quanto às pragas que atacam o seringal, há os ácaros, besouros desfolhadores, mandarovás, formigas, moscas brancas, cochonilhas, percevejos-de-renda e cupins.

Aproximadamente 60 espécies de ácaros de diferentes famílias têm sido relatadas no Brasil em seringueira. Dentre as espécies de ácaros fitófagos encontradas em seringueira, duas são consideradas pragas sérias nas regiões Centro-Oeste e Sudeste do Brasil: Calacarus heveae Feres (Eriophyidae), que têm causado severo desfolhamento das plantas e conseqüente queda da produtividade do látex (Vieira & Gomes 1999, Feres 2000); 

Tenuipalpus heveae Baker (Tenuipalpidae), que causa bronzeamento e queda prematura das folhas, o que parece determinar redução significativa da produção de látex (Pontier et al. 2001) (BELLINI et al., 2005).

O ácaro “Calacarus heveae” é uma espécie pertencente a um grupo de ácaros muito pequenos (0,1 a 0,3 mm de comprimento), com o corpo vermiforme semelhante a uma pequena vírgula e apenas dois pares de pernas, apresentando coloração marrom-acinzentada.

Como conseqüência de seu ataque às folhas perdem o brilho e apresentam um amarelamentoprogressivo de sua superfície intercalado com áreas verdes normais formando desenhos característicos. Esses sintomas desenvolvem-se a partir da região inferior da copa, ascendendo progressivamente. As folhas atingidas acabam caindo, resultando em diferentes níveis de desfolha das plantas.

Aspectos de Plantio

 Cultivares: clones de alto rendimento. Recomenda-se para o litoral; clones tolerantes ao mal-das-folhas.

Clima e solo: solos com permeabilidade e profundidade adequadas e pH entre 3,8 e 6,0 (ótimo: 4,0 a 5,5). Evitar regiões frias e baixadas sujeitas a geadas.

Época de plantio: mais favorável no início da estação das águas.

Tipos de mudas: mudas formadas no próprio saco plástico ou toco parafinado transplantado para o saco plástico com um ou dois lançamentos maduros.

Viveiro de seringueira

Espaçamento: 7 a 8 m, entre as linhas de plantio e 2,5 a 3,0 m entre as plantas na linha.

            Mudas necessárias: ideal 500 plantas por hectare.

Plantio: covas nas dimensões de 0,4 x 0,4 x 0,5 m com uso da cavadeira ou em sulcos. Plantio em nível.

Controle da erosão: plantar em nível mantendo o solo vegetado no período das chuvas.

Calagem e adubação: segundo a análise de solo, aplicar calcário para elevar a saturação por bases a 50%, usando preferivelmente calcário dolomítico, até a dose de 2 t/ha. A adubação de plantio, por cova, corresponde a 30 g de P2O5 e 30 g de K2O e 20 a 30 litros de esterco de curral bem curtido, quando disponível; para solos deficientes, acrescentar 5 g de zinco. Cerca de um mês após o plantio, aplicar 30 g de N por planta, em cobertura, repetindo essa aplicação mais duas vezes durante o decorrer do 1.° ano.

A adubação de formação e exploração corresponde a 80 g/planta de N, 40 a 80 g/planta de P2O5 e 40 a 80 g/planta de K2O, durante o 2.° e 3.° ano; do 4.° ao 6.° ano aplicar 120 g/planta de N, 60 a 120 g/planta de P2O5 e 60 a 120 g/planta de K2O; do 7.° ao 15.°, aplicar 120 g/planta de N, 60 a 100 g/planta de P2O5 e 60 a 120 g/planta de K2O; e do 16.° ao 25.° ano, aplicar 100 g/planta de N, 40 a 80 g/planta de P2O5 e 60 a 100 g/planta de K2O. Parcelar a aplicação de fertilizantes, em duas vezes; a primeira no início e a segunda no final da estação das águas.

Outros tratos culturais: na formação – controlar plantas daninhas com herbicidas específicos ou capinas manuais; desbrotar para livrar o tronco até 2m; fazer formação de copa com anelamento da haste, quando necessário. Adulto – controle do mato com capinas ou herbicidas nas fileiras; roçar as entrelinhas.

Culturas intercalares: indicado até o terceiro ou quarto ano de formação; culturas anuais recomendadas – feijão, soja, milho etc; e perenes – palmito, café, cacau, etc. Tomar o cuidado de respeitar uma faixa de pelo menos um metro de cada lado da linha de seringueira, para evitar competição por nutrientes.

Controle de doenças: no litoral, clones tolerantes ao mal-das-folhas (Mycrocyclus ulei), doença que não é problema no planalto. Em viveiros irrigados, em determinadas épocas do ano, usar benomyl, triadimefom, enbuconazole methyl, propiconazole, mancozeb e chlorotalonil. Antracnose ocorre em folíolos jovens e painel de sangria. Folíolos: fungicidas cúpricos e chlorotalonil. Painel: fungicidas à base de chlorotalonil, propiconazole e mancozeb. Oídio (Oidium heveae): enxofre.

            Colheita: o látex é colhido o ano todo com sangrias a cada três, quatro, cinco ou até sete dias. Sugere-se o uso de estimulantes após visitação técnica.

Colheita do látex

            Produtividade normal: varia com o clone e a idade de sangria. Entretanto, a produtividade média de borracha seca nos seringais; no Estado gira em torno de 1.000 kg/ha ao ano.