“O setor de celulose e papel vai muito bem obrigado”. A frase que tem uma conotação popular reflete bem o momento atual do setor no cenário econômico brasileiro. A previsão para 2010 acende refletores para novas oportunidades: a produção de celulose deve atingir 14 milhões de toneladas, o que representa um avanço de 3,7%. Já o papel alavanca um salto de 3,5%, totalizando uma produção de 9,5 milhões de toneladas. No quesito vendas domésticas espera-se cerca de 5,3 milhões de toneladas (6,5%). As exportações devem atingir 6,3 milhões de toneladas, ou seja, 25% de crescimento.
Os dados numéricos são resultantes de uma pesquisa realizada pela Associação Brasileira Técnica de Celulose e Papel (ABTCP), com apoio de informações da Associação Brasileira de Celulose e Papel (Bracelpa) - denominada “Sondagem junto aos associados” e foram apresentados nesta segunda-feira (4) durante coletiva de imprensa e panorama setorial do 43º Congresso e Exposição Internacional de Celulose e Papel do ABTCP-TAPPI 2010. O evento acontece no Transamérica Expo Center, em São Paulo até o próximo dia 6.
A sondagem indica um novo ciclo de investimentos para o setor de C&P até o ano de 2020 que deve alcançar a média de US$ 20 bilhões. A injeção deste aporte pretende dinamizar o volume de produção e consequentemente multiplicar os números do setor. Espera-se até 2020 um aumento de 57% em produção, o que deve indicar um volume de 22 milhões de toneladas de celulose e 12,7 milhões de toneladas de papel, ou seja, 34% de crescimento nos próximos 10 anos.
Segundo o presidente da ABTCP, Lairton Leonardi, a pesquisa realizada detectou os principais segmentos de atuação das empresas associadas à entidade. Hoje, o setor de celulose ainda lidera o ranking, seguido por papel e embalagem, papel tissue, papel off set (imprimir e escrever) e ainda por outros segmentos incluídos num percentual de 25%. “Esta sondagem foi feita com associados e contemplou a participação de pequenas, médias e grandes empresas”, explica Leonardi.
Para os dirigentes da entidade, o segmento de papel ainda não tem um crescimento suficientemente forte, por conta de hábitos do brasileiro a serem conquistados, também pelo baixo nível de educação e principalmente pelo fomento à leitura ainda ser insuficiente em todo o País.
Diante da perspectivas de investimentos, fica uma pergunta no ar: para onde vão estes investimentos? Os dirigentes da ABTCP analisam que tecnologia é um dos fatores que merece atenção, com cerca de 15% do bolo, enquanto a expansão de capacidade chegará à média de 13%. A aquisição de ativos florestais deverá ter um aporte de 37%, além de, ampliação de plantas, novas plantas, pesquisa e desenvolvimento, logística, automação industrial, entre outros.No que se refere às áreas contempladas, a grande vedete é ainda a celulose, que deve levar cerca de 25% do capital investido.
Parece que há um consenso em todo o setor de que a sustentabilidade é a grande mola mestra para equilibrar as ações e resultados para todos. “Falarmos do futuro sem falarmos da sustentabilidade não tem sentido”, expressou o presidente da ABTCP. Tudo indica que as empresas do setor estão preparadas para investir em causas ambientais e quem não está pronto para esta meta, terá que se ajustar urgentemente. Tratamento de efluentes, regulamentação conforme certificações de ISO/FSC, controle de poluição e efluentes, sistema de gestão integrado, crédito de carbono, avanço tecnológico, projetos e programas socioambientais, criação de reservas de área natural, qualificação de mão de obra estão na mira dos gestores.
A previsão para 2010 acende refletores para novas oportunidades: a produção de celulose deve atingir 14 milhões de toneladas, o que representa um avanço de 3,7%.
No ambiente interno brasileiro, os investimentos têm destino certo: Sul e Nordeste são os principais alvos, sendo esta última região a nova fronteira que chama a atenção de grandes grupos do setor. O Mato Grosso do Sul também descortina muitas oportunidades de expansão e crescimento.
Para o gerente técnico da ABTCP, Afonso Moura, há também uma movimentação internacional silenciosa, que com o tempo vai gerar possibilidades para o Brasil. “Estivemos recentemente num congresso tal como este, na China, e percebemos que há uma saturação na indústria de lá, com fechamento de 2 mil fábricas, o que vai consequentemente afetar o abastecimento daquele pais”. Na ótica dele, com essa sinalização de pontos frágeis da potência chinesa, a América Latina pode assumir uma importante posição de fornecedora de celulose. “Brasil, Chile e Uruguai têm condições de assumir este papel”, comenta.
Salto Econômico
Apesar de números indicarem uma evolução constante do setor e muitas oportunidades, há riscos e desafios para se vencer. O professor de economia da PUC-SP, Renaldo Gonsalves, analisa que a retomada de crescimento num espaço curto de tempo, após a crise de 2008, deixa o setor bastante competitivo.
Outro fator que coloca o Brasil numa posição aparentemente confortável é a competitividade que o País adquiriu, garantindo o quarto lugar em produção de celulose e o nono na produção de papel, o que gera oportunidades à vista. “Outros países não têm isso”, comenta o gerente técnico da ABTCP, Afonso Moura. “Somos o único País que cresceu no setor neste ritmo no ano passado, passando a Itália e a França”, complementou a representante da Bracelpa, Simone Nagai durante panorama setorial da ABTCP.
Mas nem tudo são flores. O setor produziu mais, porém a receita de exportação foi menor, em função da desvalorização do dólar e dos grandes estoques internacionais. A executiva deixou um alerta para a plateia: “o Brasil está na moda, mas toda moda passa”. Segundo ela, é preciso driblar pontos estratégicos que ainda dificultam o crescimento do setor, como guerra fiscal, tributação, burocracia do governo, falta de logística. “O setor é sólido, temos base, mas precisamos mostrar para o Governo que estamos dispostos a contribuir com as políticas públicas”, expressa